Usura

A palavra “usura” tem um significado específico e importante na Bíblia, especialmente no contexto das práticas financeiras e da ética religiosa. Deriva do latim usura, que significa “uso” ou “juro”, e refere-se ao ato de cobrar juros excessivos ou abusivos sobre empréstimos, particularmente quando esses juros exploram ou oprimem os necessitados.

Significado Detalhado:

Definição Geral:

Usura é a cobrança de juros sobre empréstimos, especialmente quando esses juros são considerados excessivos ou injustos.
No contexto bíblico, a usura é frequentemente associada à exploração dos pobres e vulneráveis, que são forçados a pagar juros altos para obter empréstimos em momentos de necessidade.

Contexto Histórico e Cultural:

Na antiga sociedade israelita, os empréstimos eram frequentemente feitos para ajudar pessoas em situações de pobreza extrema, como fome ou perda de colheitas.
Cobrar juros de um irmão israelita era visto como uma violação da solidariedade e da justiça social, pois explorava a dificuldade alheia.

Perspectiva Bíblica:

A Bíblia condena a usura, especialmente quando praticada contra os pobres ou membros da comunidade de fé. Isso reflete a preocupação de Deus com a justiça, a compaixão e o cuidado pelos mais vulneráveis.
No entanto, a cobrança de juros era permitida em transações com estrangeiros (não israelitas), pois essas relações eram vistas como comerciais e não baseadas na mesma obrigação de solidariedade (Deuteronômio 23:20).

Princípios Éticos:

A proibição da usura está ligada aos princípios de amor ao próximo, justiça social e integridade financeira.
A usura é vista como uma forma de ganância e opressão, que contradiz os valores do Reino de Deus.

Exemplos Bíblicos:

Proibição da Usura no Antigo Testamento:

Êxodo 22:25: “Se emprestares dinheiro ao meu povo, ao pobre que está contigo, não te haverás com ele como usurário; não lhe imporeis juros.”
Este versículo estabelece a proibição de cobrar juros de um irmão israelita em necessidade.
Levítico 25:36-37: “Não receberás dele juros nem ganho; mas terás temor do teu Deus, para que teu irmão viva contigo. Não lhe darás teu dinheiro com juros, nem lhe darás teus víveres por ganho.”
Aqui, a proibição da usura é reforçada, enfatizando o temor a Deus e a compaixão pelo próximo.
Deuteronômio 23:19-20: “Não emprestarás com juros ao teu irmão, juros de dinheiro, juros de comida, juros de qualquer coisa que se empresta com juros. Ao estrangeiro poderás emprestar com juros, porém ao teu irmão não emprestarás com juros.”
Este texto diferencia o tratamento entre israelitas e estrangeiros, permitindo juros em transações comerciais com não israelitas.

Condenação da Usura nos Profetas:

Ezequiel 18:13: “Se emprestar com usura e tomar juros, porventura viverá? Não viverá; todas estas abominações ele fez; certamente morrerá; o seu sangue será sobre ele.”
Ezequiel condena a usura como uma prática abominável que traz consequências graves.
Neemias 5:7-11: “E eu disse: O que fazeis não é bom; porventura não devíeis andar no temor do nosso Deus, por causa do opróbrio dos gentios, nossos inimigos? […] Restituí-lhes, pois, hoje mesmo os seus campos, as suas vinhas, os seus olivais e as suas casas, como também a centésima parte do dinheiro, e do trigo, do mosto e do azeite, que vós exigis deles.”
Neemias confronta os líderes de Judá por explorarem o povo através de empréstimos com juros, exigindo que eles restituíssem o que haviam tomado injustamente.

Ensinamentos no Novo Testamento:

Lucas 6:34-35: “E, se emprestardes àqueles de quem esperais receber, que mérito há nisso? Também os pecadores emprestam aos pecadores, para receberem outro tanto. Amai, porém, a vossos inimigos, e fazei bem, e emprestai, sem nada esperardes, e será grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo.”
Jesus ensina sobre a generosidade e a prática de emprestar sem esperar retorno, contrastando com a mentalidade da usura.

Aplicação Prática:

Justiça Financeira:

A condenação da usura na Bíblia desafia os crentes a adotarem práticas financeiras justas e compassivas, especialmente em relação aos mais necessitados.

Generosidade e Solidariedade:

Em vez de explorar os outros para ganho pessoal, os cristãos são chamados a ajudar os necessitados sem esperar nada em troca, refletindo o amor e a graça de Deus.

Responsabilidade Social:

A proibição da usura lembra os crentes de sua responsabilidade de promover a justiça e a dignidade humana, combatendo práticas que oprimem os pobres.

Integridade nos Negócios:

Mesmo em transações comerciais, os cristãos são chamados a agir com honestidade e equidade, evitando práticas exploratórias.

Conclusão:

A usura, na Bíblia, é uma prática condenada porque explora os vulneráveis e contradiz os princípios de justiça, compaixão e amor ao próximo. Embora o contexto cultural e econômico tenha mudado desde os tempos bíblicos, os princípios por trás da proibição da usura continuam relevantes, desafiando os crentes a agirem com integridade e generosidade em suas práticas financeiras.